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Cirurgia8 novembro 2022

A relação entre dor, consumo de opioides e mobilização no pós-operatório

Como devemos lidar com a mobilização dos pacientes no pós-operatório e o manejo da dor e do uso de opioides?

Por André Aranda

Um artigo recente da revista Anesthesiology analisou a correlação entre mobilização precoce, uso de opioides e dor após procedimentos cirúrgicos. Eles fizeram isso através da análise de dados de pós-operatório de dois grandes estudos anteriores.

Leia também: Controle álgico pós-operatório: o uso de opioides é o ideal?

É muito comum que os pacientes submetidos a cirurgias permaneçam grande parte do tempo deitados no leito no pós-operatório. Por mais que exista pouca evidência sobre o assunto, acredita-se que a analgesia com opiáceos possa contribuir para uma maior restrição ao leito, devido aos seus efeitos colaterais, como náuseas e vômitos.

A relação entre dor, consumo de opioides e mobilização no pós-operatório

Métodos

Para tentar esclarecer como esses fatores estão interligados, esse estudo fez uma análise profunda de dois ensaios clínicos randomizados. Em ambos os estudos as cirurgias eram abdominais. Os pacientes foram encorajados a se movimentar mais no pós-operatório e analisados por 48 horas.

O nível de dor foi medido através de uma escala numérica. A mobilização foi quantificada através da porcentagem do tempo que os pacientes se mantiveram restritos no leito e a quantidade de opioides consumida (convertida em doses equivalentes de morfina).

Foram analisados um total de 673 pacientes após os critérios de exclusão serem aplicados.

Saiba mais: Estratégia analgésica no pós-operatório: o que devo considerar?

Resultados

Foi observado que a cada unidade no escore de dor que aumenta ocorre uma diminuição no tempo de mobilização de 0,12 h/dia  (IC 97,5%, 0,02 a 0,24) (P = 0,009).

Naqueles com média ponderada de dor 3 ou menos, o tempo de mobilização foi de 8% [4 a 15%], correspondendo a 1,9 [1,0 a 3,6] h/dia. Nos pacientes com um pouco mais de dor relatada — entre 3 e 6  o tempo de mobilização foi de 7% [3 a 13%], correspondendo a 1,7 [0,7 a 3,1] h/dia. Já naqueles com escala de dor 6 ou mais, o tempo de mobilização foi de 5% [2 a 11%], correspondendo a 1,2 [0,5 a 2,6] h/dia.

Após a revisão dos dados, foi visto que a mobilização no período pós-operatório diminuiu os escores de dor relatados, sugerindo que uma analgesia inadequada prejudica fortemente a mobilização precoce. Quando analisado somente o período diurno, a associação foi três vezes mais forte, tendo em vista que os pacientes tendem a se locomover menos no período noturno.

Por outro lado, houve pouca associação entre o consumo total de opioides e a mobilização geral dos pacientes. Além disso, as complicações após a cirurgia ocorreram todas nos pacientes que estavam nos dois quartis mais baixos da análise de mobilização, ou seja, os que permaneceram menos de 7% do seu tempo sentado ou em pé durante o período de 48 horas observado.

Nesse estudo, o tempo médio de mobilização foi de aproximadamente duas horas por dia. O autor salienta que as recomendações de mobilização no pós-operatório são baseadas mais em opiniões de especialistas do que em evidências científicas fortes. Pelos resultados obtidos em seu espaço amostral, os autores sugerem que duas horas por dia podem ser suficientes.

Conclusão

O autor conclui que no pós-operatório de uma cirurgia abdominal, a dor relatada pelo paciente está correlacionada de forma inversa com a sua mobilidade e ao custo de aumento do consumo de opiáceos. Os pacientes passaram em média cerca de duas horas por dia fora do leito, tempo menor do que é recomendado como meta por especialistas, porém os resultados sugerem que esse período pode ser suficiente.

Mensagem prática

A dor está relacionada com menor mobilização e ocorrem mais complicações no pós-operatório naqueles que se mobilizam menos, ou seja, prescreva uma analgesia adequada ao seu paciente!

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Referências bibliográficas

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