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Carreira5 julho 2024

Aspectos da saúde mental a serem trabalhados em hospitais e clínicas

No Panorama de Saúde Mental 2022, estudo conduzido pela Afya, apenas 30,6% dos médicos participantes nunca apresentaram sintomas de depressão
Por Tayne Miranda

O trabalho na saúde é altamente demandante subjetivamente e imprevisível, características que favorecem uma sobrecarga emocional dos profissionais. No Panorama de Saúde Mental 2022, estudo conduzido pela Afya, abarcando médicos em diferentes estágios das suas carreiras, apenas 30,6% dos participantes nunca apresentaram sintomas de depressão.  

As evidências sobre como criar locais de trabalho mais saudáveis ​​para a saúde mental demonstram que diferentes iniciativas são necessárias, passando pela prevenção e por tempo adequado de descanso, abarcando medidas tanto a nível individual como organizacional. Aqui, vamos discutir questões relacionadas à cultura médica, organização dos serviços de trabalho e estilo de vida que podem ser aprimoradas para uma melhor saúde mental dos médicos.  

 

Cultura Médica 

Alguns elementos da cultura médica de ensino são fonte de vergonha para médicos em formação. Aqui vale uma diferenciação breve entre culpa e vergonha. Embora ambos ocorram após uma transgressão ou falha em atender a uma expectativa, a culpa diz respeito a algo específico e mutável, enquanto a vergonha é vivida como algo global e imutável sobre si mesmo, na qual não se distingue o que é a pessoa (eu) e o comportamento. Na população geral, a vivência do sentimento de vergonha está ligada a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e problemas com o uso de substâncias.  

A rigidez do tratamento pelos supervisores em situações difíceis, receber feedbacks negativos, especialmente em público e não saber responder aos questionamentos durante as visitas clínicas, particularmente questionamentos que visam manter a hierarquia de poder na educação médica através de vergonha ou humilhação intencional, são situações vexatórias que contribuem para o adoecimento dos profissionais.  

Não conseguir realizar as atividades de forma autônoma, solicitando ajuda frequentemente também é fonte de vergonha. Ser solícito com colegas fomenta relações melhores no ambiente de trabalho, afinal de contas, quem nunca teve dificuldade para compreender os fluxos e o sistema, por exemplo, no início de um trabalho? 

Outros elementos da cultura médica, como intensa comparações com outros, foco no desempenho, dificuldade com padrões subjetivos (a mudança da ênfase no desempenho objetivo que caracteriza o início da formação médica para os padrões subjetivos que são requeridos na prática clínica) e quadros de referência distorcidos (julgamento baseado em referências que são incompatíveis com sua realidade, por exemplo, o profissional se julga o único responsável por um erro, em uma situação que envolveu o erro de outras pessoas e problemas sistêmicos do local de trabalho) estão associados ao adoecimento mental.  

 

Cultura organizacional 

As relações de cooperação e confiança são imprescindíveis para um ambiente de trabalho saudável. A cooperação diz respeito à vontade das pessoas de trabalharem juntas e superarem coletivamente as dificuldades inerentes à própria natureza do trabalho e, para que ocorra, demanda relações de confiança entre os pares de que os acordos, pactuações, normas e regras serão seguidas.  

O engajamento e a mobilização subjetiva dos trabalhadores depende da relação entre contribuição e retribuição (aqui entendida não somente como retribuição material, mas também como retribuição simbólica). O reconhecimento – a constatação da contribuição individual é um elemento fundamental para que o sofrimento no trabalho seja transformado em prazer. Compõe o reconhecimento o julgamento da utilidade (impacto positivo na vida de outras pessoas e na comunidade) e da qualidade do trabalho feito (reconhecimento geralmente dado pelos colegas de profissão).  

Reduzir as tarefas burocráticas, assegurar autonomia no contexto de trabalho e segurança nas relações trabalhistas, reduzir as horas de trabalho e turnos e apoiar o equilíbrio esforço-recompensa são medidas no plano organizacional necessárias para saúde mental dos médicos.  O trabalho ocupa um lugar central na construção da identidade, na realização de si mesmo e na saúde mental e o reconhecimento da expertise contribui para a satisfação profissional. 

 

Cuidado individual 

O cuidado individual envolve práticas que podem ser implementadas no ambiente de trabalho e ações que extrapolam o contexto do trabalho. Intervenções baseadas em mindfulness e terapia cognitivo-comportamental são eficazes em reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão e podem ser implementadas no ambiente de trabalho. Intervenções breves que incorporam respiração profunda e gratidão também se mostram benéficas em alguns cenários.  

Ter um bom equilíbrio entre vida profissional e pessoal, boa qualidade de sono, realizar uma dieta balanceada e praticar atividade física são sabidamente práticas de autocuidado com grande impacto na saúde mental.  

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Referências bibliográficas

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