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Neste artigo vamos abordar a paciente gestante que desenvolve insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICC), e não a paciente com IC que engravida. A causa mais comum de ICC na gestação é a cardiomiopatia periparto, uma doença semelhante à cardiomiopatia dilatada, que acomete gestantes no último trimestre ou até seis meses no puerpério. A incidência estimada é entre 1 para cada 1300-4000 nascimentos e a maior parte (75%) ocorre no primeiro mês de puerpério.
Cenário clínico: quando suspeitar de insuficiência cardíaca?
Os dois cenários mais comuns são a paciente com dispneia e/ou com edema generalizado. Os critérios diagnóstico para ICC são os mesmos da população em geral, sendo os critérios de Framingham os mais utilizados. O desafio na gestação/puerpério é separar o fisiológico do patológico. A presença de dispneia aos pequenos esforços, ortopneia e um edema ascendente são sinais de patologia, bem como o achado, no exame físico, de turgência jugular patológica, hepatomegalia e/ou refluxo hepatojugular.
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Nesta situação, os exames complementares têm como função confirmar o diagnóstico de ICC, determinar sua etiologia e descobrir se há um fator descompensador transitório. Os exames mais comumente indicados são:
- Hemograma com bioquímica e hepatograma
- TSH e T4 livre
- BNP: atenção que há elevação em até 2x fisiológica na gestação
- Troponina: útil quando houver dor precordial
- ECG
- Ecocardiograma transtorácico: padrão-ouro, tanto para confirmar diagnóstico como para descobrir etiologia
- Na suspeita de infecção (pneumonia ou ITU), adicione PCRt, culturas, EAS e Rx tórax
Teste avançados, como pesquisa de isquemia miocárdica, ou causas secundárias, como doença autoimune, só estão indicados se houver suspeita clínica (respectivamente, dor precordial e quadro de febre com artralgias e/ou rash).
Como tratar?
Na gravidez e na lactação, há restrições para uso de diversos fármacos. Os mais utilizados na ICC são:
Fármaco | Gravidez | Lactação | Comentário |
AAS | D | Baixo | Apesar do “D”, é amplamente utilizado em dose antiplaquetária |
Metoprolol | C | Muito Baixo | Pode causar bradicardia e hipoglicemia fetal
Evite o atenolol |
Digoxina | C | Muito baixa | Pode ser utilizada |
Furosemida | C | Não usar | A contraindicação na lactação é relativa
Na gestação, esteja atento à idramnia |
iECA/BRA | D | Muito Baixo | Contraindicados na gestação
Captopril e enalapril podem na lactação |
Mononitrato
Isossorbida | C | Baixo | Menos estudado que nitroglicerina |
Nitroglicerina | C | Muito Baixo | |
Hidralazina | C | Muito Baixo |
No paciente ambulatorial, comece com o uso de hidralazina com nitrato, sendo associado ou trocado por iECA quando do puerpério. Diuréticos e digoxina podem ser utilizados para alívio sintomático. Os betabloqueadores, em especial o metoprolol de longa ação, podem ser utilizados mesmo na gestação, mas monitore o feto para risco de bradicardia e hipoglicemia no nascimento. Os inibidores do sistema renina são totalmente contraindicados durante gravidez.
Já na paciente com ICC descompensada, a VNI pode ser utilizada, mas há maior risco de distensão gástrica e broncoaspiração. Diurético parenteral, digoxina e vasodilatadores são as drogas de escolha no paciente quente e úmido. Há mais evidências para uso de nitroglicerina do que nitroprussiato. No paciente com padrão frio, com má perfusão, os inotrópicos mais estudados são a dobutamina e a milrinona.
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Referências:
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=10.1016%2Fj.ccl.2017.09.006
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26000354
- https://www.escardio.org/static_file/Escardio/Guidelines/publications/PREGN%20Guidelines-Pregnancy-FT.pdf
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