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Os esteroides androgênicos anabólicos (EAA ou AAS – do inglês anabolican drogenic steroids) são um grupo de compostos naturais e sintéticos formados pela testosterona e seus derivados. Atualmente, estão sendo empregados de forma abusiva e indiscriminada para melhora da performance esportiva e estética. Sua incidência parece ter aumentado consideravelmente nos últimos anos, e o maior consumo ocorre entre indivíduos do sexo masculino.
Os efeitos adversos do uso ilícito de AAS em longo prazo não estão bem esclarecidos. A literatura crescente, amplamente composta por relatos de casos e pequenos estudos observacionais, sugere que o uso de AAS pode causar doenças cardiovasculares.
Recentemente, um estudo observacional publicado no Circulation foi realizado com o intuito de verificar a associação entre a exposição de AAS e doenças cardiovasculares. Foram analisados 140 homens halterofilistas entre 34 e 54 anos de idade, contemplando 86 homens que relataram ≥2 anos de uso acumulado de AAS ao longo da vida e 54 homens sem uso. Entre os usuários dos AAS, 58 (67%) estavam utilizando AAS e 28 (33%) não estavam utilizando no momento da avaliação.
Os usuários de AAS e os não usuários foram semelhantes na maioria das características, entretanto os usuários apresentaram índice de massa corporal e índice de massa livre de gordura, consistente com os efeitos conhecidos dos AAS.
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Entre as características cardiometabólicas, os usuários de AAS apresentaram maior pressão arterial e maior prevalência de dislipidemia em comparação com os não usuários.
Na avaliação da estrutura e função cardíaca, os usuários de AAS demonstraram uma redução da função sistólica do ventrículo esquerdo (média ± desvio padrão [DP], fração de ejeção do ventrículo esquerdo [FEVE] = 52 ± 11% versus 63 ± 8%; p<0,001) e função diastólica (velocidade de relaxamento = 9,3 ± 2,4 cm/segundo versus 11,1 ± 2,0 cm/segundo; p<0,001) em comparação com os não usuários.
Os usuários que estavam utilizando AAS no momento da avaliação (n=58) apresentaram redução significativa da função sistólica do ventrículo esquerdo(FEVE = 49 ± 10% versus 58 ± 10%; p<0,001) e função diastólica (velocidade de relaxamento = 8,9 ± 2,4 cm/segundo versus 10,1 ± 2,4 cm/segundo, p=0,035) em comparação com os usuários não faziam uso de AASno momento da avaliação (n=28).
Adicionalmente, os usuários de AAS demonstraram maior volume de placa coronariana do que não usuários (mediana [intervalo interquartil]: 3 [0, 174] mL3 versus 0 [0, 69] mL3; p=0,012).
Com base nesses resultados, o estudo concluiu que o uso prolongado de AAS parece estar associado a disfunção do ventrículo esquerdo e doença arterial coronariana precoce. Essas descobertas podem alertar as iniciativas de saúde pública para reduzir a exposição aos medicamentos e fornecer aos clínicos informações que se traduzam em melhor atendimento ao paciente.
Veja também: ‘Uso de anabolizantes afeta estrutura do cérebro; saiba como orientar seu paciente’
Referências:
- Baggish AL, Weiner RB, Kanayama G, Hudson JI, Lu MT, Hoffmann U, et al. Cardiovascular Toxicity of Illicit Anabolic-Androgenic Steroid UseClinical Perspective. Circulation [Internet]. 2017;135(21):1991–2002. Available from: https://circ.ahajournals.org/content/135/21/1991.full?ijkey=9BGhjmJafew2GqZ&keytype=ref
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