A síndrome de Brugada é uma doença de origem genética autossômica dominante que apresenta alterações eletrocardiográficas típicas e alto risco de morte súbita por taquiarritmias ventriculares malignas. Sua prevalência é baixa, estimada em menos de 1% da população. É uma doença do homem com idade média de 40 anos. O termo Brugada pode ser utilizado para duas situações diferentes:
- Padrão Brugada no ECG (“Brugada Pattern”): há alterações típicas no ECG mas não há outros critérios “clínicos” – o paciente é totalmente assintomático.
- Síndrome de Brugada: quando há alterações típicas no ECG + sintomas e/ou critérios “clínicos”.
Você deve pensar em Brugada na presença de alterações sugestivas de um bloqueio do ramo direito incompleto (pseudo-BRD) e supradesnível do segmento ST em V1/V2. Um dica inicial é olhar a onda S na parede lateral esquerda – em Brugada essa onda não existe, ao contrário do BRD. O que fazer então?
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O primeiro passo é excluir cardiopatia estrutural. Em Brugada, o coração deve ter estrutura normal. Para isso, é necessário ecocardiograma, ressonância magnética e teste funcional para isquemia. Nesse momento, utilize o eletrocardiograma para classificar o tipo de Brugada Pattern. Inicialmente foram propostos 3 tipos, mas um consenso de 2013 definiu apenas os tipos 1 e 2.
O paciente com tipo 1 é o originalmente descrito na Síndrome de Brugada. No tipo 2 pode-se realizar um teste farmacológico provocativo. O procedimento é, em ambiente hospitalar monitorizado, administrar procainamida ou flecainida. Caso haja mudança do padrão do ECG do tipo 2 para o tipo 1, o risco do paciente é maior para FV/TV e ele é considerado como Síndrome de Brugada.
Tipo 1* | Tipo 2* | |
Supradesnível ST | ≥ 2 mm | ≥ 2 mm |
Morfologia ST | Côncavo para cima | Em forma de sela |
Porção terminal do segmento ST | Descendente | Elevado ≥ 1 mm |
Onda T | Negativa | Positiva ou Bifásica |
*Veja ilustração dos tipos 1 e 2 nesse link.
O segundo passo é, no paciente com Síndrome de Brugada (Tipo 1), avaliar o risco de morte súbita: quanto maior, mais provável a indicação de um cardiodesfibrilador implantável (CDI). A presença de critérios clínicos aumenta o risco e um estudo recente está propondo um escore para essa avaliação de risco.
Critérios “Clínicos”:
- História familiar morte súbita
- Síncope
- FV/TV revertida
- Positividade para estudos genéticos
- FV/TV induzida por estudo eletrofisiológico (EEF)
- Fibrilação atrial
- Respiração noturna “agônica” (um sintoma comum em quem tem a síndrome, mas controverso se de fato indica pior prognóstico)
Escore de risco proposto por Sieira e cols:
Variável | Pontuação |
Tipo 1 espontâneo | 1 |
História familiar morte súbita | 1 |
Arritmia induzida no EEF | 2 |
Síncope | 2 |
Disfunção nodo sinusal | 3 |
Morte súbita abortada | 4 |
Pontuação | Sobrevida livre de eventos em 10 anos (%) |
0 | 97,2 |
1 | 96,4 |
2 | 90,8 |
3 | 83,4 |
4 | 70,1 |
5 ou + | 61,4 |
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