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Cardiologia13 março 2024

Plástico e risco de eventos cardiovasculares

Um estudo avaliou se partículas de plástico são detectáveis em placas ateroscleróticas e se elas teriam associação com doença cardiovascular.
O consumo de plástico está em constante aumento, o que contribui para a poluição ambiental. Quando na natureza, são submetidos a degradação e formação de microplásticos (partículas menores que 5mm) e nanoplásticos (partículas menores que 1000nm), que podem desencadear uma gama de efeitos tóxicos.  Diversos estudos já mostraram que essas partículas entram no corpo humano pela via oral, inalatória e pela exposição da pele e já foram encontradas em tecidos como placenta, pulmões, fígado e em leite materno, urina e sangue. Modelos experimentais tem sugerido que podem também atuar como fator de risco cardiovascular, com indução de estresse oxidativo, inflamação e apoptose do endotélio e outros componentes do vaso. Porém a relevância clínica desses achados é desconhecida.  Assim, foi feito um estudo recentemente publicado na NEJM que avaliou se essas partículas são detectáveis em placas ateroscleróticas e se sua quantidade teria associação com doença cardiovascular. 

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi estudo prospectivo, multicêntrico e observacional que avaliou dois grupos, um com placas ateroscleróticas que continham partículas de plástico e outro com placas ateroscleróticas sem as partículas. Os fragmentos foram retirados da região de bifurcação da carótida e analisados por métodos específicos na microscopia eletrônica, cromatografia e espectroscopia de massa.  Foram incluídos pacientes entre 18 e 75 anos com estenose de carótidas maior que 70%, assintomáticos e que seriam submetidos a endarterectomia. Os critérios de exclusão eram presença de insuficiência cardíaca, doença valvar, neoplasia maligna e hipertensão secundária. Pacientes com complicações pós-operatórias antes da alta ou com dados incompletos também foram excluídos.  O desfecho primário foi composto por infarto agudo miocárdio (IAM) não fatal, acidente vascular cerebral (AVC) não fatal ou morte por qualquer causa. Desfechos secundários incluíram níveis de interleucina-18, interleucina 1β, fator de necrose tumoral α (TNF- α), interleucina-6, CD68, CD3 e colágeno.  Saiba mais: Atividade física pode prevenir insuficiência cardíaca em mulheres idosas?

Resultados 

Foram avaliados 312 pacientes. Desses, 8 tiveram AVC ou faleceram antes da alta e 47 tinham dados incompletos ou perderam o seguimento, sendo a amostra final de 257 pacientes, que foram seguidos por média de 33,7 meses.   Do total de pacientes, 150 (58,4%) tinham quantidade detectável de polietileno na placa carotídea, sendo que 31 (12,1%) também tinham quantidade de policloreto de vinila. O nível médio de polietileno era 21,7 µg/mg de placa e de policloreto de vinila de 5,2 µg/mg de placa.   Pacientes partículas de plástico na placa eram mais jovens, com maior chance de ser homens e tinham menos hipertensão. Esses pacientes também tinham mais diabetes, doença cardiovascular, dislipidemia, tabagismo e maiores níveis de creatinina comparados aos pacientes sem partículas de plástico na placa carotídea. Não houve diferença em relação ao local de moradia dos pacientes.  Os marcadores inflamatórios citados anteriormente (interleucinas e TNF-α), a quantidade de colágeno e os níveis de CD3 e CD68, marcadores de infiltração linfocitária e macrofágica respectivamente, tiveram correlação com a quantidade de plástico visto na placa.   No seguimento houve pelo menos um evento do desfecho primário em 8 de 107 pacientes (7,5%) do grupo que não tinha evidência de plástico na placa, resultando em 2,2 eventos por 100 pacientes-ano. Já no grupo com plástico na placa aterosclerótica, que continha 150 pacientes, houve 30 eventos (20%), resultando em 6,1 eventos por 100 pacientes-ano. O HR foi de 4,53 (IC95% 2-10,27) com P < 0,001. Ao se analisar a quantidade de plástico como variável contínua, houve associação com desfecho primário. Leia também: Liproteina a, proteína C reativa e risco cardiovascular

Comentários e conclusão 

Esse estudo mostrou que pacientes assintomáticos submetidos a endarterectomia de carótida que tinham partículas de plástico na placa tiveram maior ocorrência de eventos (IAM, AVC ou morte por qualquer causa) do que os que não tinham essas partículas.  A ingestão ou aspiração de partículas de plástico pode levá-los à circulação e acúmulo em órgãos altamente vascularizados e o coração. O tamanho das partículas também influencia, sendo que quando maiores que 150µm ou maiores que 10 µm de diâmetro não são absorvidas. A maioria das partículas detectadas no estudo tinha menos que 200nm.      Existem pelo menos 11 tipos de plásticos utilizados e não está claro porque houve predominância dos dois tipos encontrados no estudo. Todos são amplamente utilizados, desde para produção de comida até em encanamentos e cosméticos.  Importante ressaltar que esse estudo não é de causalidade, a associação entre as partículas e eventos cardiovasculares parece ocorrer, porém pode ser que esses pacientes tenham outros fatores de risco confundidores que não foram avaliados, como exposição a outras substâncias ou diferentes comportamentos e estilos de vida por exemplo. Existem ainda outras limitações, inclusive possibilidade de contaminação das amostras, mesmo com todos os cuidados adotados e a população avaliada foi bem específica, sendo que esses resultados não podem ser generalizados para a população geral. 
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