Pessoas que se preocupam com sua saúde têm um risco 70% maior de doença cardíaca isquêmica, sugere um novo estudo publicado no BMJ Open.
Pesquisadores noruegueses usaram dados de sete mil adultos sobre sua ansiedade relacionada à saúde. Cerca de 10% foram considerados como tendo ansiedade. Estes tinham, significativamente, mais chances de desenvolver doença isquêmica do coração durante 12 anos de seguimento (6,1% vs. 3,0%), do que aqueles sem ansiedade.
A diferença ainda se mostrou significativa mesmo após o ajuste para fatores de risco cardiovascular e outros potenciais fatores de confusão. Dr. Ronaldo Gismondi, doutor em Medicina e professor de Clínica Médica na Universidade Federal Fluminense, dá sua opinião sobre o tema:
“O estresse está presente no dia a dia da maioria das pessoas. Estresse e cardiopatia são como “Tostines”: uma pessoa estressada apresenta maior risco de cardiopatia e ser cardiopata deixa a pessoa mais estressada. Falando mais tecnicamente agora, há vários distúrbios psiquiátricos (ou psicossociais) que têm relação com doença cardíaca. O presente estudo aborda especificamente a relação entre uma das formas de ansiedade – a preocupação com a saúde, uma versão light de hipocondria – e doença coronariana.
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A ansiedade favorece a doença coronariana tanto na forma aguda – aumenta o risco de infarto do miocárdio e morte súbita – como na crônica. O sistema nervoso simpático, através da liberação de adrenalina e noradrenalina, seria a principal via de ligação entre o evento cerebral e os mecanismos efetores circulatórios. Há aumento da pressão arterial, vasoconstricção e disfunção endotelial, com aumento da agregação plaquetária e formação de trombos. Como exemplo, em um estudo clássico da década de 90, eventos emocionais foram o trigger mais comum de infarto do miocárdio (18% do total), acima, por exemplo, do esforço físico (14%).
O estudo INTERHEART analisou a relação entre IAM e fatores psicossociais em diversas partes do mundo. Um dos principais resultados mostrou que o nível de estresse moderado a alto foi de 43% nos EUA, mas apenas 15% na China e Hong Kong e houve associação positiva entre estresse em casa, no trabalho e nas finanças e o risco de doença coronariana. Outro estudo acompanhou por dois anos homens trabalhadores da área da saúde, sem cardiopatia prévia, e observou que aqueles com maior nível de ansiedade apresentaram maior risco de doença coronariana!
No estudo atual, pessoas preocupadas com a saúde tiveram um risco 70% maior de doença isquêmica do coração. A preocupação com a saúde foi definida como uma preocupação constante ou recorrente de ter e/ou adquirir uma doença grave e/ou sintomas urgentes, mas sem causa fisiológica aparente (algo próximo a um transtorno somatoforme).
Outro dado importante é que esse risco foi maior mesmo controlando estatisticamente fatores confundidores, como hipertensão e diabetes. A mensagem que fica é: estejam atentos aos seus pacientes ansiosos. Sabemos que muitos dos seus sintomas não terão explicação física imediata, mas não negligencie tudo o que eles referem. O seu risco de doença, pelo menos doença coronariana, é maior! As dúvidas que ficam para estudos futuros: vale a pena, então, tratá-los como doentes de alto risco, com AAS e estatina na prevenção primária? Se tratarmos a ansiedade, o risco de cardiopatia diminui?”, finaliza Dr. Ronaldo.
Referências:
- BMJ Open 2016;6:e012914 doi:10.1136/bmjopen-2016-012914
- https://www.jwatch.org/fw112220/2016/11/04/being-worried-about-health-may-put-patients-risk-heart?query=pfw&jwd=000020039906&jspc=IM
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