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Cardiologia22 julho 2024

Papel do vericiguat no tratamento da ICFER

O estimulador da guanilato ciclase solúvel (sGC) vericiguat é uma boa opção para manejo de idosos com ICFEr que não toleram medicações?
Por Juliana Avelar

Sabemos que a terapia atual para o manejo da ICFEr inclui quatro diferentes classes de medicamentos modificadores da doença (β-bloqueadores, inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona, antagonistas do receptor mineralocorticoide e inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2).

Sabemos também que, muitas vezes, pacientes mais idosos não toleram essas medicações ou suas doses otimizadas. Nesse contexto, surge o vericiguat. Trata-se de um estimulador da guanilato ciclase solúvel (sGC), que demonstrou exercer efeitos benéficos em pacientes com piora da IC, incluindo idosos, reduzindo a taxa de hospitalizações e morte, com menos efeitos adversos e interações medicamentosas.

medicamentos variados, incluindo vericiguat para uso na icfer

O vericiguat

Estudos recentes mostraram que a estimulação da via óxido nítrico-guanilato ciclase solúvel-cGMP por estimuladores da sGC representa uma abordagem terapêutica potencial para o manejo da insuficiência cardíaca . A enzima sGC é um receptor intracelular de óxido nítrico que catalisa a síntese do segundo mensageiro monofosfato de guanosina cíclico (cGMP) quando ativado.

A expressão cardíaca da sGC é reduzida na IC, juntamente com uma reduzida biodisponibilidade de NO, levando ao desenvolvimento de disfunção miocárdica e vascular. Assim, a restauração da via NO-sGC-cGMP pode melhorar a função cardíaca na IC, além da inibição do sistema neuro-hormonal.

O vericiguat é o primeiro estimulador oral da sGC aprovado para tratar adultos com ICFER evidência de piora clínica.

A dose inicial recomendada é de 2,5 mg via oral. A dose deve ser dobrada a cada duas semanas, até alcançar a dose de 10 mg. Não precisa de ajuste por idade ou comprometimento renal/hepático leve a moderado. No entanto, não há dados disponíveis sobre o impacto do vericiguat em indivíduos com disfunção renal grave (estágio V ou em diálise) ou comprometimento hepático (Child-Pugh C).

O uso deve ser evitado em pacientes com pressão arterial sistólica <100mmHg e não é liberado para gestantes. Contraindicada administração concomitante com inibidores da fosfodiesterase 5.

Nos pacientes idosos, os benefícios parecem múltiplos: medicação bem tolerada, com poucos efeitos hemodinâmicos e apenas uma administração ao dia, além de não precisar da monitorização de nenhum exame laboratorial.

Recomendações de guidelines

Pelo guideline do tratamento de IC crônica da ESC em 2021, o vericiguat pode ser considerado na ICFEr em piora (com classe funciona II-IV) já em uso de IECA ou ARNI, betabloqueador e antagonista mineralocorticoide, com o objetivo de reduzir a mortalidade cardiovascular ou hospitalização por IC (IIB). A atualização de 2023 manteve as mesmas indicações.

O principal estudo sobre o vericiguat (estudo VICTORIA) mostrou que a adição de vericiguat oral ao tratamento padrão reduz significativamente o risco de morte cardiovascular ou hospitalização por IC. No entanto, não houve diferenças estatisticamente significativas na ocorrência de morte cardiovascular isolada e mortalidade por todas as causas.

As diretrizes da ESC e as diretrizes conjuntas do American College of Cardiology, American Heart Association e Heart Failure Society of America para IC crônica atribuíram uma significância terapêutica limitada ao vericiguat.

Essas limitações são principalmente atribuíveis à falta de um efeito significativo na mortalidade cardiovascular isolada, número pequeno de pacientes estudados (5050) e uma duração de seguimento mediana curta (11 meses). Esses fatores contribuíram para uma abordagem cautelosa nas diretrizes atuais para o uso de vericiguat em pacientes com ICFEr.

Resumo das recomendações das sociedades ESC e AHA/ACC/HFSA:

Conclusão 

O vericiguat representa uma ferramenta útil para reduzir hospitalizações/mortalidade por IC nos pacientes com ICFER e terapia clínica já otimizada, mas seu papel como terapia inicial ainda exige evidências adicionais. 

Autoria

Foto de Juliana Avelar

Juliana Avelar

Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

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