Pacientes idosos são pouco representados na maioria dos estudos sobre tratamento de síndrome coronariana aguda (SCA) e não há evidência robusta em relação a revascularização percutânea nesta população. Assim, as diretrizes não têm recomendação específica sobre revascularizar apenas a artéria culpada ou todas as artérias com obstruções importantes em pacientes idosos com SCA e doença multiarterial. No intuito de esclarecer essa dúvida, foi feito o estudo FIRE, apresentado no European Society of Cardiology (ESC 2023).
Métodos do estudo e população envolvida
Foi um estudo que avaliou se a revascularização completa baseada em avaliação funcional seria superior à revascularização apenas da artéria culpada em pacientes idosos com SCA e doença multiarterial. Os critérios de inclusão eram pacientes com pelo menos 75 anos internados por SCA com ou sem supradesnivelamento do segmento ST submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) da lesão culpada com sucesso e com doença multiarterial definida como estenose de 50-99%.
Após o tratamento da lesão culpada os pacientes foram randomizados para os grupos tratamento apenas da lesão culpada e tratamento guiado por avaliação funcional, sendo que todos realizavam avaliação funcional na angiografia (FFR) e, se significativa, eram tratados com angioplastia.
O desfecho primário era composto por morte, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou revascularização guiada por isquemia até um ano da randomização. O desfecho de segurança era composto por lesão renal aguda (LRA), AVC ou sangramento.
Resultados
Foram incluídos 1.445 pacientes de 34 locais da Itália, Espanha e Polonia. A idade média era 80 anos e 36,5% eram mulheres. No seguimento de um ano houve redução de 27% no risco de desfecho primário, que ocorreu em 113 pacientes (15,7%) no grupo com revascularização completa e 152 pacientes (21%) no grupo tratamento da lesão culpada apenas (HR 0,73, IC95% 0,57-0,93; p = 0,01), com NNT de 19 pacientes.
O desfecho secundário foi menor no grupo revascularização completa, com redução de 36% no risco de morte ou IAM (HR 0,64, IC95% 0,47 – 0,88) e NNT de 22. Todos os componentes do desfecho primário foram menores no grupo com revascularização guiada por avaliação funcional, exceto AVC. Não houve diferença em relação aos desfechos de segurança.
Comentários e conclusão
Esse estudo avaliou uma população pouco representada nos estudos e às vezes negligenciada na prática clínica e esclareceu algumas dúvidas que temos ao tratar esses pacientes. Alguns pontos importantes são que não foi estudo cego e a revascularização das lesões não culpadas eram realizadas na mesma internação.
A ocorrência de eventos foi maior que nos estudos com pacientes mais jovens e os resultados mostraram que a revascularização completa guiada por avaliação funcional em idosos com SCA e doença multiarterial é segura e eficaz, com redução de morte e novo evento coronariano de forma significativa, sem aumento de eventos adversos, o que faz com que essa estratégia deva ser adotada na prática clínica.
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