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Agora em 2019, a Sociedade Brasileira de Cardiologia publicou suas novas diretrizes sobre cuidados cardiovasculares no idoso, a cardiogeriatria. O documento é bastante completo, e preparamos aqui um roteiro prático daquilo que será mais importante no seu dia a dia na beira do leito.
Cuidados cardiovasculares no idoso
Passo 1: conhecendo seu idoso
Os idosos são uma população heterogênea. Há aqueles com independência funcional, boa cognição e grande expectativa de vida, versus outros com doenças crônicas, redução das tarefas do cotidiano e menor sobrevida. Como metrificar isso? Pelo grau de fragilidade. A diretriz é enfática em recomendar uma avaliação geriátrica inicial, para conhecermos a cognição, sarcopenia e funcionalidade do idoso. As ferramentas de apoio do cardiologista são:
Passo 2: Check-Up e profilaxia primária
Em um idoso na prevenção primária, alimentação saudável, interrupção do tabagismo e prática de atividade física regular são pilares indispensáveis no cuidado cardiovascular. Já em relação aos principais fatores de risco, as metas variam conforme a fragilidade do idoso:
Frailty | Glicada A1c | Glicose Jejum | Glicose Bedtime | PA (mmHg) | Dislipidemia |
Saudável | < 7,5% | 90-130 | 90-150 | < 140/90 | Estatina |
Intermediário | < 8,0% | 90-150 | 100-180 | < 140/90 | Estatina |
Complexo, saúde ruim | < 8,5% | 100-180 | 110-200 | < 150/90 | Vale o risco x benefício? |
Sobre o exercício físico, antes da participação, o cardiologista deve sempre realizar um ECG de modo complementar à avaliação clínica. O debate gira em torno se vale a pena pedir um teste funcional ou não. Na diretriz, saiu como recomendação IIa: provável benefício.
Ao final, o médico deve calcular o risco cardiovascular, sendo utilizadas as mesmas equações (Risco de Vida Global, SCORE ou Framingham). Contudo, pela idade, é comum o risco ser classificado como intermediário a alto. Neste cenário, uma opção é refinar a estimativa do risco através de exames que medem a aterosclerose subclínica: proteína C reativa, IMT carotídea ou escore de cálcio, este último o que vem mostrando melhores resultados nas pesquisas recentes.
Um aspecto também bastante enfatizado na diretriz é a importância de simplificar o esquema posológico, tanto para aumentar adesão como para reduzir o risco de interação medicamentosa.
E, por fim, não podemos esquecer de recomendar a atualização do calendário vacinal, visto que em muitos cardiopatas este hábito está associado com menor mortalidade!
Passo 3: o idoso cardiopata
Quando o idoso já tem cardiopatia, as recomendações da diretriz não diferem muito daquelas nas diretrizes “originais”. Os pontos mais importantes são:
1) Coronariopatia
- Sintomas atípicos são mais frequentes
- Não há limite de idade para trombolítico, mas há poucos estudos > 85 anos
- Acima 75 anos, prefira clopidogrel como inibidor P2Y12
- A dose de enoxaparina plena após 75 anos é ajustada para 0,75 mg/kg SC 12/12h
2) Insuficiência cardíaca
- Ajuste o BNP pela idade – quanto mais velho, maior o limite do BNP ““normal””
3) Hipertensão
- Há curva J: a PA alta, mas também a PA baixa, piora prognóstico. A partir dos 80 anos, tenha como alvo PA sistólica 130-140 mmHg no idoso “inteiro” e tolere até 150-160 no idoso frágil.
- Evite PA diastólica < 60 mmHg.
4) Estenose aórtica: a classificação do STS é a base de escolha “TAVI vs troca valvar” e deve ser adaptada como:
- Baixo: STS < 4%; sem fragilidade; sem comorbidade.
- Intermediário: STS 4-8%; fragilidade leve, um comprometimento função orgânica.
- Alto: STS > 8%; fragilidade moderada a grave, comprometimento duas ou mais funções orgânicas.
5) Síncope
- Quedas inexplicadas devem ser investigadas como síncope.
- Hipotensão postural é mecanismo comum. Por isso, sempre deve ser avaliada.
- A investigação e tratamento devem seguir as diretrizes originais.
- O escore San Francisco Syncope Rules pode ser utilizado para estratificar o risco. A partir de 1 ponto já há maior risco e indicação de internação para investigação. Os parâmetros são: ICC.
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