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O eletrocardiograma (ECG) é hoje considerado estratégia de screening obrigatório para participação em esportes de alta performance. Com a crescente participação populacional em atividades como corrida, tem sido frequente pessoas “normais” praticaram 4 ou + horas de atividade física por semana. Nesta intensidade, o sistema cardiovascular pode apresentar alterações consequentes ao exercício regular e o ECG, por conseguinte, padrões variantes do normal que podem “assustar” médicos que não tenham estudado o assunto.
A principal modificação no sistema cardiovascular do esportista é o aumento do tônus vagal. Contudo, pode haver também aumento das câmaras cardíacas, da espessura e massa ventricular, do volume sistólico e da fração de ejeção. Essas alterações são mais pronunciadas em negro do que em brancos, em estudos feitos nos EUA. Pode ser difícil diferenciar quais destas alterações são benignas e quais indicam o início de uma cardiomiopatia, o grande fantasma da morte súbita em jovens. Por isso, o ECG é a etapa complementar ao exame físico/história indispensável e foi alvo de padronização por um grupo internacional. Eles dividiram as alterações em:
- Benignas: não necessitam de mais exames. Estão liberados.
- Duvidosas:
Isolada: não é necessário investigar
2 ou +: investigação é obrigatória - Malignas: necessitam de interrupção da prática esportiva e investigação adicional, que na maioria das vezes envolve ecocardiograma, ressonância, Holter e teste ergométrico.
BENIGNAS
Alteração | Comentário |
Aumento amplitude QRS | O critério de Sokolow não deve ser utilizado isoladamente para hipertrofia de VE ou VD
Só há suspeita se outras alterações estiverem presentes, como desvio ST ou onda T |
BRD incompleto | Pode estar presente na população normal |
Padrão de repolarização precoce | Caracterizado por supraST (ponto J ≥ 1 mm)
Concavidade superior do supraST Transição precoce QRS-ST Ausência imagem em espelho Onda T base larga e simétrica |
Inversão onda T | Negros americanos: quando associada a QRS amplo, supraST convexidade superior e inv.T V1-V4
Qualquer jovem < 16 anos de V1 a V3 apenas |
Bradicardia sinusal ou arritmia sinusal | Desde que FC ≥ 30 bpm e PR < 400 ms |
BAV 1º grau ou 2º grau Mobitz I | Desde que PR < 400 ms |
Ritmo juncional ou atrial ectópico | Assintomática, transitória e com boa FC |
DUVIDOSAS
Alteração | Comentário |
Desvio do eixo para esquerda | -30 a -90 graus |
Aumento átrio esquerdo | Índice de Morris V1 ou duração > 120 ms em D1 ou D2 |
Desvio eixo para direita | > 120 graus |
Aumento átrio direito | Amplitude P ≥ 2,5 mm em parede inferior |
BRD completo | QRS > 120 ms |
MALIGNAS
Alteração | Comentário |
Inversão onda T | Todas que não tiverem padrão benigno |
InfraST | ≥ 0,5 mm em 2 ou + derivações contíguas |
Onda Q patológica | Relação Q/R ≥ 0,25 e/ou duração ≥ 40 ms em 2 ou + derivações contíguas |
BRE completo | ≥ 120 ms |
QRS ≥ 140 ms | Todos, mesmo que sem padrão típico para BRE ou BRD |
Onda Epsilon | Deflexão baixa amplitude e curta duração entre ST e onda T em V1-V3
Leva à suspeita de displasia arritmogênica do VD |
Padrão pré-excitação | PR < 120 ms com onda delta e/ou QRS ≥ 120 ms |
QT prolongado | QTc ≥ 470 (H) ou 480 (M) ou qualquer QTc ≥ 500 ms |
Padrão Brugada | Veja nossa revisão sobre o tema |
FC sinusal < 30 bpm | ou com pausas sinusais > 3 seg |
BAV 1º grau grave | PR ≥ 400 ms |
BAV 2º grau Mobitz II ou BAVT | Sintomático ou não |
ESV (extra-sístoles ventriculares) | ≥ 2 ESV em 10 seg no ECG padrão |
TSV, FA ou flutter | Sintomático ou não |
Arritmia ventricular maligna | Inclui TV não sustentada |
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Referências:
- International Recommendations for Electrocardiographic Interpretation in Athletes. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2017.01.015
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