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Cardiologia11 julho 2017

Colesterol: mito ou verdade

Essa semana circulou nas redes sociais a seguinte mensagem: o colesterol é oficialmente removido da Lista Negra. Saiba mais em nosso artigo!

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Essa semana circulou nas redes sociais a seguinte mensagem:

O colesterol é oficialmente removido da Lista Negra.

O governo dos EUA finalmente aceitou que o colesterol não é mais um nutriente preocupante, numa mudança radical em seus avisos para se evitar alimentos ricos em colesterol desde a década de 1970 (para se prevenir de doenças cardíacas e artérias obstruídas).

Isto significa que os ovos, a manteiga, os produtos lácteos integrais, as nozes, o óleo de coco e a carne foram agora classificados como “seguros” e foram oficialmente removidos dos nutrientes da “lista de preocupação”.

O Departamento de Agricultura dos EUA, que é responsável pela atualização das diretrizes a cada cinco anos, declarou em suas conclusões para 2015:

“Anteriormente, as Diretrizes Alimentares para os americanos recomendavam que a ingestão de colesterol fosse limitada a não mais de 300 mg / dia. A DGAC de 2017 não apresentará esta recomendação porque as evidências disponíveis não mostram uma relação apreciável entre o consumo de colesterol dietético e o colesterol sérico (no sangue), consistente com o AHA / ACC (American Heart Association / American College of Cardiology)”.

O Comitê Consultivo das Diretrizes Dietéticas, em resposta, não mais advertirá as pessoas contra o consumo de alimentos ricos em Colesterol e, em vez disso, se concentrará “NO AÇÚCAR” como a principal substância preocupante na dieta.

O cardiologista norte-americano Dr. Steven Nissen disse:

“É a decisão certa. Temos as orientações dietéticas erradas. Eles estão errados há décadas. Quando comemos mais alimentos ricos neste composto, nosso organismo acaba compensando e produzindo menos. Se nos privamos de alimentos ricos em colesterol – como ovos, manteiga e fígado – o nosso corpo faz um ‘revs up’.

A maior parte do colesterol circulante é produzido pelo fígado. Seu cérebro e até seus hormônios são compostos principalmente de colesterol. É essencial que as células nervosas funcionem. O colesterol é a base para a criação de todos os hormônios esteroides, incluindo estrogênio, testosterona e corticosteroides. Colesterol elevado no corpo é uma indicação clara de que o fígado do indivíduo está saudável”.

Dr. George V. Mann M.D. diretor associado do estudo de Framingham para a incidência e prevalência de doenças cardiovasculares (CVD) e seus fatores de risco, afirma: gorduras saturadas e colesterol na dieta não são a causa da doença cardíaca coronária. “Esse mito é o maior engano do século”.

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A reportagem, publicada pelo tabloide inglês Telegraph, data de 13 de junho de 2016, e faz referência a uma revisão sistemática sobre o colesterol-LDL e o risco de morte em idosos. No estudo, os autores incluíram 19 estudos com 68 mil participantes. Em 14 destes, houve associação inversa entre LDL e risco de morte, isto é, um LDL maior esteve associado com menor risco de morte! Esse dado é inédito e vai contra todos os estudos prévios na área. Mas será que ele deve mudar sua conduta? Essa é a pergunta chave!

Uma revisão sistemática de estudos observacionais está sujeita a alguns erros estatísticos – o viés – que pode nos levar a conclusões precipitadas:

  • Um estudo observacional fala em associação – e não efeito causal. Será que o paciente com LDL muito baixo (<50) não apresentava doença grave – câncer ou hepatopatia – e por isso morreu mais?
  • A própria revisão sistemática apresenta limitações: a busca foi em apenas uma base de dados (PubMed), não houve avaliação adequada da qualidade/heterogeneidade entre estudos e, o principal, não foi controlado o uso de estatina e o valor do HDL. É sabido de estudos que usar o colesterol não-HDL é o método ideal de estimar o risco cardiovascular, tanto que a calculadora ASCVD, da AHA/ACC, e o escore de risco global de Framingham pedem a você o valor do colesterol total e HDL – e não o LDL!!! Além disso, os pacientes mais graves poderiam estar usando estatina, apresentando LDL menor, e por isso, morreram mais, mesmo com os benefícios do hipolipemiante.

Falar em dieta para colesterol também não é apropriado com base nesse estudo, que nada avaliou quanto à alimentação. Sabe-se que a dieta tem grande efeito na redução do triglicerídeo, mas pouco (10 a 20% apenas) nos níveis de colesterol. Além disso, uma boa alimentação tem benefícios que vão além de mera redução dos lipídeos e isso foi comprovado no estudo que mostrou que uma dieta de padrão Mediterrâneo é capaz de reduzir a mortalidade cardiovascular no longo prazo.

Outro aspecto fundamental é que o uso de estatinas deve ser encarado como um tratamento anti-aterosclerose, e não um mero hipolipemiante. Suas ações anti-inflamatórias e estabilizadoras do endotélio diferenciam essa classe das demais drogas de redução do colesterol. Na prevenção primária, estudos como WOSCOPS, ASCOT-LLA e JUPITER mostram que o uso de estatina reduz o risco de eventos cardiovasculares (morte, IAM ou AVC) no médio e longo prazo. Por isso, use seu WB, calcule o risco cardiovascular pelo escore de Framingham, e inicie estatina conforme o resultado!

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Referências:

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