Recentemente, foi publicado um estudo de fase III (FIDELIO-DKD) com resultados benéficos de uma nova droga, finerenone, que atua como antagonista do receptor mineralocorticoide. Neste estudo, houve redução de desfechos cardiovascular e renal em pacientes com doença renal crônica (DRC) e diabetes melitus (DM) tipo 2.
Sabe-se que esta população tem risco aumentado de fibrilação atrial (FA), além de alta morbidade e mortalidade relacionadas a esta patologia. Mecanismos de ação propostos para esta nova droga que teriam efeito na prevenção da FA são a redução do remodelamento miocárdico, mediado por receptores mineralocorticoides, e consequente prevenção da dilatação e fibrose atriais.
Baseado nisso, foi feita uma análise secundária dos dados do FIDELIO-DKD, avaliando a incidência de FA em pacientes com diabetes tipo 2 e DRC, apresentada, hoje, no congresso do American College of Cardiology (ACC 2021).
Finerenone e FA
Este estudo foi multicêntrico, randomizado, controlado, duplo cego e placebo controlado. Os pacientes foram randomizados para os grupos finerenone (10mg quando a taxa de filtração glomerular (TGF) entre 25 e 60 mL/min/1,73m2 e 20mg quando maior que 60 mL/min/1,73m2) ou placebo. Após um mês, se o potássio estivesse menor ou igual a 4,8 e a TFG estável, a dose de 10mg era aumentada para 20 mg.
Os critérios de inclusão eram: idade maior que 18 anos, diabetes tipo 2 e TFG entre 25 e 60 mL/min/1,73m², albuminúria moderada e retinopatia diabética ou TFG entre 25 e 75 mL/min/1,73m² e albuminúria importante, além de máxima dose tolerada de inibidores do sistema renina angiotensina (ISRA) e potássio ≤ 4,8.
Os critérios de exclusão eram DRC de causa não diabética, insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida em classe funcional II a IV, história recente de diálise ou transplante renal e hipertensão não controlada.
O número total de pacientes foi 5.674 divididos nos grupos finerenone e placebo. A idade média foi de 66 anos e 30% eram do sexo feminino. A hemoglobina glicada média foi de 7,7%, o clearence médio de 44 ml/min/1,72m2 e o potássio 4,3. O seguimento médio foi de 2,6 anos.
Resultados
No início do estudo, 8,1% tinham FA documentada e estes pacientes eram mais velhos, maioria homens, tinham mais doença cardiovascular conhecida, maior IMC e PCR mais alto que pacientes sem FA.
A ocorrência do desfecho primário (insuficiência renal, queda de pelo menos 40% do clearence em relação ao basal ou morte por doença renal) foi de 17,8% x 21,1% para os grupos finerenone e placebo respectivamente (HR 0,82 IC95% 0,73-0,93, p = 0,0014).
Em relação aos desfechos secundários houve diferença estatística para morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e internação por insuficiência cardíaca (13% x 14,8%, p = 0,03). Os achados foram semelhantes para quem tinha doença cardiovascular prévia ou não. Hipercalemia ocorreu em 15,8% no grupo finerenone e 7,8% no grupo placebo.
Em relação à FA, houve incidência de 3,2% no grupo finerenone e 4,5% no grupo placebo, que corresponde a 1,2 por 100 pacientes-ano para o grupo finerenone e 1,72 por 100 pacientes-ano para o grupo placebo (HR 0,71. IC95% 0,53 – 0,94, p = 0,016).
Mensagens práticas
Apesar de o estudo mostrar um número pequeno de eventos, levanta a hipótese interessante de redução da incidência de FA, além de redução de desfechos cardiovasculares e renais com o uso desta nova medicação, mais potente e com menos risco de hipercalemia que espironolactona e eplerenone.
Mais estudos são necessários para confirmar esses achados, porém parece ser uma droga promissora para esta os pacientes diabéticos com doença renal crônica.
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Referência bibliográfica:
- Filippatos G, et al. Finerenone Reduces Onset of Atrial Fibrillation in Patients with Chronic Kidney Disease and Type 2 Diabetes. J Am Coll Cardiol. May 17, 2021. Epublished DOI: 10.1016/j.jacc.2021.04.079
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