A tomada de decisão compartilhada com o paciente deve ser usada por especialistas para avaliar atletas com doenças cardíacas genéticas (DCG) e, potencialmente, permitir que eles retornem a competir esportes? As diretrizes sempre foram bastante paternalistas no sentido de proibir a prática de esportes (exceto esportes de classe IA) para qualquer atleta com fenótipo positivo para DCG.
Tais diretrizes são de alta precaução e careciam de dados observacionais que davam suporte a essas recomendações. Objetivo deste estudo foi avaliar os resultados e ônus do retorno ao jogo (RTJ) para atletas de nível universitário e profissional (elite) da primeira divisão (DI) com DCG.
Métodos
Estudo retrospectivo e multicêntrico; todos os pacientes com DCG jogando na DI ou nível profissional desses centros foram identificados e avaliados, tendo registrados todos os dados demográficos, diagnóstico e tratamento clínico, circunstâncias em torno da RTJ e taxa de eventos cardíacos associados a DCG.
O protocolo de retorno ao jogo foi o publicado por Tobert et al. No JACC. 2021 (doi: 10.1016/j.jacc.2021.04.02):
Atletas com DCG podem retornar ao jogo após:
- Concluir uma avaliação abrangente com estratificação de risco;
- Estabelecer um programa de tratamento adaptado ao genótipo e fenótipo;
- Implementar um plano de RTJ específico para cada atleta.
Segue algumas características importantes a serem consideradas do baseline desses pacientes: 53% tinham cardiomiopatia hipertróficva, 26% síndrome do QT longo, 30% era portadores de CDI, 36% eram atletas profissionais (divisão I NCAA); 53% tiveram seu diagnóstico por alteração na avaliação cardíaca, 24% por sintomas cardíacos, 9% por história familiar de morte súbita.
Resultados
Cerca de 63% dos pacientes eram assintomáticos antes do diagnóstico e 72% foram inicialmente desqualificados para o esporte, mas optaram pelo RTJ após avaliação clínica abrangente e decisão compartilhada com equipe médica; 73 dos 76 atletas (96%) optaram pelo RTJ.
Após avaliação abrangente, otimização do tratamento e tomada de decisão compartilhada médico-paciente, 3 pacientes (4%) optaram por não retornar ao esporte. Quatro (5%) atletas foram liberados para RTJ pelos peritos, mas permanecem desclassificados devido aos profissionais médicos de seu time. Dos pacientes restantes, 3 pacientes (4%) apresentaram 1 um evento cardíaco após RTJ em um total de 200 acompanhamentos-ano.
Mensagem prática
Após avaliação cuidadosa por um especialista, estratificação de risco e decisão compartilhada, um plano de exercícios pode ser implementado para atletas da Divisão I e atletas profissionais para voltar às competições. Faz necessário um protocolo abrangente de RTJ para uma prática de esportes segura e deve incluir adesão aos tratamentos prescritos, acompanhamento anual e avaliação de risco, além de comunicação aberta com time, escola, organização, diretores esportivos e equipe médica.
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