As luxações acromioclaviculares (LAC) são muito comuns nos departamentos de emergência, correspondendo a cerca de 40% das lesões de ombro e são muito comumente associadas a traumas especialmente ocasionados por esportes. Normalmente se apresentam como processos bastante dolorosos e tratados com analgésicos orais, porém muitos pacientes são refratários a esse tratamento e acabam se beneficiando com a administração de opioides venosos.
Atualmente, em época da prática “opioide free” a realização de injeção intra-articular de anestésico local demonstrou grande eficácia em relação à analgesia, porém nunca foi descrita como parte da analgesia multimodal no cenário atual. A técnica realizada por USG, além de ser facilmente realizada na beira do leito, demonstrou muito mais eficácia que a técnica tradicional que utiliza parâmetros anatômicos, principalmente em relação a localização correta da injeção e efetividade álgica (93,6% versus 68,2%). Nesse artigo iremos relatar o primeiro caso de analgesia de LAC guiada por ultrassom.
Analgesia intra-articular por ultrassom
O procedimento foi realizado no departamento de emergência em um paciente do sexo masculino de 41 anos sem histórico de comorbidades que sofreu LAC por queda de moto. Esse paciente a princípio recebeu medicação analgésica oral com 600 mg de ibuprofeno e 1 g de acetoaminofeno não apresentando nenhuma melhora da dor. A técnica de bloqueio local guiado por USG foi indicada.
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O paciente foi colocado em posição sentada e a articulação identificada com palpação suave. O transdutor foi posicionado na articulação de uma forma que a clavícula distal, o processo acrômio clavicular e o espaço articular fossem totalmente visualizados na tela. Após botão anestésico subcutâneo com lidocaína 1% para conforto do paciente, foi introduzido a agulha acoplada com a seringa contendo 3 mL de bupivacaína a 0,5% na junção acrômio clavicular.
Não foi realizada punção articular anterior e o paciente tolerou o procedimento com o mínimo de desconforto. Paciente foi reavaliado 30 minutos após o procedimento e relatou melhora do dor em uma escala de 3/10 em relação a severidade e estava apto a realizar abdução do braço completa com o mínimo desconforto. Após uma semana, paciente foi contactado e relatou melhora da dor numa escala de 1/10 com duração de 8 horas da analgesia.
Apesar da LAC ser uma lesão frequente e bastante dolorosa, não existem muitas alternativas terapêuticas atualmente realizadas além dos analgésicos orais e opioides venosos, que na maioria das vezes não são eficazes. Bloqueio de plexo braquial é eficaz para promover analgesia em fratura de clavícula, porém não apresentam grande eficácia em lesões distais. Além disso, necessitam de equipe com treinamento especializado, monitorização contínua e maior tempo de internação hospitalar, fora os riscos inerentes ao procedimento.
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Injeção intra-articular com o uso de parâmetros anatômicos mostrou-se menos acurada que as injeções guiadas por USG, principalmente devido à pouca profundidade da articulação, alterações anatômicas de cada indivíduo e presença de ostófitos que podem dificultar a técnica.
Conclusão
Embora não haja relatos na literatura da prática do bloqueio guiado por USG e embora essa técnica seja amplamente utilizada no controle da dor crônica e não necessite de grande experiência com USG, esse estudo demonstrou que a técnica pode ser a solução ideal, segura, eficaz e efetiva para pacientes em sala de emergência refratários à analgesia oral e venosa, apresentando dor aguda por luxação acromioclavicular.
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