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Formação20 julho 2017

Acupuntura: a terapia complementar aos tratamentos convencionais

Como parte da nossa série de artigos sobre Residência e as especialidades médicas, hoje o Dra. Lourdes fala tudo que você precisa saber sobre a Acupuntura.

Por Lourdes Soares

Como parte da nossa série de artigos sobre Residência e as especialidades médicas, hoje o Dra. Lourdes de Fátima dos Santos Donato fala tudo que você precisa saber sobre a Acupuntura.

medico fazendo acupuntura

Acupuntura

1) O que é?

Originária da China, a Acupuntura é um método terapêutico que se caracteriza pela inserção de agulhas na superfície corporal para tratar doenças e promover a saúde. Ela é reconhecida como especialidade médica desde 1995 pelo Conselho Federal de Medicina.

Graças às pesquisas científicas realizadas nos últimos 50 anos, tanto na China como no Ocidente, os efeitos da Acupuntura vêm sendo desvendados. Seu mecanismo de ação tem sido demonstrado à luz da ciência atual com a descrição de bases fisiológicas.

A inserção da agulha de Acupuntura estimula terminações nervosas existentes na pele e nos tecidos subjacentes, principalmente nos músculos. A “mensagem” gerada por esses estímulos segue pelos nervos periféricos até o sistema nervoso central (medula e cérebro), liberando neurotransmissores e desencadeando efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e relaxante muscular, além de ter uma ação moduladora sobre as emoções, sobre os sistemas endócrino e imunológico e sobre várias outras funções orgânicas.

A Organização Mundial de Saúde redigiu um relatório que recomenda o uso de Acupuntura para mais de 200 doenças e sintomas (lombalgia, cefaleias, enxaquecas, náuseas e vômitos, rinite alérgica, depressão e ansiedade, efeitos colaterais da quimioterapia, apenas para citar alguns).

Os únicos profissionais de saúde do país que, por lei, detêm o direito de diagnosticar doenças, prescrever medicamentos e realizar procedimentos invasivos, são os médicos, os cirurgiões-dentistas e os médicos veterinários. O Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA) defende que a prática da Acupuntura, no Brasil, seja realizada por estes profissionais, nos seus respectivos campos de atuação.

Muito mais que medicina alternativa, a Acupuntura ocupa um lugar de terapia complementar aos tratamentos convencionais, de modo que a razão legal para a recomendação do CMBA é simples e objetiva: a Acupuntura constitui-se em uma especialidade terapêutica que executa manejo clínico de pacientes. É necessário que o profissional esteja técnico e cientificamente preparado, e legalmente autorizado a:

  1. Realizar anamnese e exame físico do paciente e solicitar exames complementares de natureza diversa com a finalidade de, sabendo analisar e interpretar adequadamente as informações originárias destes três, elaborar diagnóstico nosológico;
  2. A partir do diagnóstico nosológico, estabelecer o prognóstico para as diversas abordagens terapêuticas aventáveis para determinada situação patológica;
  3. A partir do prognóstico, prescrever os tratamentos mais apropriados e efetivos, sejam de natureza farmacológica ou cirúrgico-invasiva, estabelecendo quais seriam o tratamento principal, ou mesmo único, e os tratamentos complementares;
  4. Executar tratamento invasivo.

No Brasil, a Acupuntura é uma especialidade médica regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina, na qual médicos especializados na área cumprem um extenso programa de Educação Médica em Acupuntura e são submetidos a uma validação de Título de Especialista em Acupuntura (TEAC), pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelo CMBA.

A formação do médico acupunturista é feita em período de dois ou três anos, como pós-graduação ou residência, e envolve o conhecimento de princípios básicos da filosofia chinesa, da medicina tradicional, o estudo da localização dos pontos de acupuntura e o reconhecimento das várias síndromes clínicas com etiologia, fisiopatologia e tratamento, tudo baseado na medicina tradicional chinesa: a teoria da medicina oriental descreve uma energia vital denominada chi (pronuncia-se “qui”), que circula no corpo por 12 rotas, chamadas de meridianos. A enfermidade ocorre quando o fluxo de chi no corpo é perturbado ou não está em equilíbrio.

A Acupuntura, uma modalidade usada no sistema maior de Medicina Tradicional Chinesa, utiliza agulhas para estimular pontos anatômicos ao longo dos meridianos para promover o fluxo adequado de chi e, assim, tratar doenças e promover saúde. Existem muitos estilos e são praticados como parte dos milhares de anos de antigas tradições médicas da China, do Japão, da Coreia e de outros países. Além de descrever a estrutura e a função do órgão em si, a denominação de cada meridiano também reflete uma função energética mais ampla na Medicina Tradicional Chinesa.

2) Como é o dia a dia?

Os profissionais treinados em medicina oriental realizam anamnese, observação e exame físico abrangentes e multi sistêmicos durante a consulta inicial. O exame consiste fundamentalmente de inspeção da língua para avaliar cor, formato e revestimento; e verificação da pulsação ao longo do punho, em três locais, nos dois braços, para avaliar sua qualidade, ritmo e força.

Na acupuntura clássica, cada paciente é encarado como tendo uma constelação singular de sinais e sintomas. Os profissionais também realizarão um exame convencional ocidental e incluirão componentes variáveis da abordagem de medicina oriental, dependendo da profundidade do treinamento do indivíduo. Uma vez que cada paciente recebe um diagnostico baseado na Medicina Tradicional Chinesa, para tratar um mesmo sintoma clínico os pacientes podem receber uma combinação diferente de pontos.

Após a anamnese e o exame físico, o acupunturista prescreve a combinação de pontos e inicia a aplicação das agulhas. Utiliza agulhas estéreis de aço inoxidável e a orientação do CMBA é de que sejam todas de uso único, descartáveis. O tempo de permanência das agulhas varia para cada caso e, em geral, o tempo total de tratamento não ultrapassa 45 minutos. Pode-se utilizar outras técnicas além da agulha, como ventosas e moxabustão. É comum que um tratamento consista em visitas semanais ou duas vezes por semana durante 4 a 10 semanas, seguidas por visitas menos frequentes à medida que o paciente melhora.

3) Oportunidades de trabalho:

Uma vez reconhecida como especialidade médica, a Acupuntura é praticada em consultórios e clínicas privadas e é obrigatoriamente oferecida aos beneficiários de planos de saúde.

Apesar de a prática já ser reconhecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) há 27 anos, o maior acesso ao tratamento só veio com a implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, em 2006. No Rio de Janeiro, algumas unidades da SMS oferecem o tratamento gratuitamente, apesar de o atendimento ainda ser muito limitado em comparação com a demanda.

LEIA MAIS: Avanços, desafios e oportunidades na área de Acupuntura

4) Número de especialistas:

No momento, temos aproximadamente 3.200 acupunturista registrados pelo Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura.

5) Curiosidade(s):

– Os primeiros registros sobre a técnica são do livro chinês Nei Jing, mas não se sabe ao certo quando ele foi publicado; acredita-se que tenha sido por volta de 200 a.C.
– A acupuntura é utilizada na China há mais de 2500 anos. O estímulo nos pontos de Acupuntura não era originalmente feito com agulhas de aço inoxidável, mas sim com instrumentos de pedra, bambu ou ossos.
– A espessura de uma agulha de Acupuntura é de 2 fios de cabelo humano.
– O tratamento com Acupuntura pode ajudar a minimizar bastante a necessidade de medicamentos de uso contínuo em diversas patologias, como dores crônicas e depressão, ajudando a diminuir o risco dos seus efeitos colaterais, que podem ser bastante prejudiciais.
– Conta-se como fato verdadeiro o episódio vivido por certo general chinês que, numa batalha contra os invasores mongóis, foi ferido no calcanhar por uma flecha inimiga. A flechada não o matou e, mais tarde, ele verificou haver diminuído ou desaparecido a lombalgia da qual sofria. Segundo a lenda, a acupuntura chinesa teria nascido a partir dessa flechada.
– A Acupuntura ganhou fama mundial após o presidente americano Richard Nixon visitar a China em 1972, quando um repórter que acompanhava a comitiva teve diagnóstico de apendicite e foi anestesiado por acupunturistas chineses e operado. Ele relatou também o positivo efeito nas suas dores pós-operatórias. A cirurgia, filmada, provocou verdadeiro espanto não só entre os membros da comitiva, como nos Estados Unidos em geral.
– A teoria por trás da prática da Acupuntura divide o corpo em pontos (os acupontos), que estão dispostos ao longo de meridianos que se estendem pelo corpo. Os pontos representam áreas onde existe intensa atividade nervosa. Os meridianos, por sua vez, representam as redes interligadas que cobrem o corpo com seus acupontos. Ao todo, são cerca de 361 pontos e 14 meridianos principais.

6) Especialidades correlacionadas:

A Acupuntura tem indicações precisas como método preferencial ou complementar nas disfunções relacionadas à maioria das especialidades médicas. Veja os exemplos citados:

  • Ginecologia: tensão pré-menstrual, dor menstrual, cefaleia menstrual, infertilidade, hemorragia uterina disfuncional.
  • Neurologia: cefaleia, neuralgia o trigêmeo, paralisia facial, sequelas de acidente vascular cerebral (AVC), dor neuropática.
  • Psiquiatria: depressão, ansiedade generalizada, pânico.
  • Gastroenterologia: síndrome do intestino irritável, gastrite, úlcera péptica, constipação.
  • Reumatologia: fibromialgia, artrite reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico.
  • Pneumologia: asma brônquica.
  • Otorrinolaringologia: rinite, sinusite.
  • Fisiatria: síndrome dolorosa miofascial.

7) Mensagem para quem quer seguir essa especialidade:

O ensino da Acupuntura como especialidade não é feito dentro da grade curricular das faculdades de medicina. É importante para o estudante ter uma boa formação clínica visto que o acupunturista recebe pacientes com as mais diversas queixas e nem sempre com diagnóstico ocidental definido. É preciso sempre ter em mente que a Acupuntura é uma terapia complementar e não substitui um bom diagnóstico clínico e um bom esquema terapêutico. Bom senso acima de tudo vai orientar o acupunturista a avaliar cada paciente para atingir sucesso no tratamento.

*Os artigos sobre as especialidades médicas foram produzidos em parceria com a Associação Nacional de Médicos Residentes

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Referências:

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